Se você circula pelas redes sociais, com certeza esbarrou em séries, filmes e outras mídias audiovisuais inspiradas (ou diretamente baseadas) em crimes reais. Afinal de contas, qual a razão da popularidade?
Você já reparou que quando um assunto X é muito debatido na mídia, multiplicam-se as obras de entretenimento relacionadas a tal assunto? Um exemplo clássico é a tragédia de 11 de setembro que devastou os Estados Unidos no começo do milênio e trouxe consigo uma enxurrada de séries e filmes.
Mais recentemente, a pandemia de Covid-19 também rendeu incontáveis produções audiovisuais em um mundo que ainda se recupera de sua devastação. Nos dois exemplos, falamos de tragédias e em como entretenimento é criado a partir disso. E não existe um “certo” ou “errado” nessas discussões.
É nesse contexto que chegamos às séries de crimes reais e como elas vêm ganhando cada vez mais audiência na televisão e especialmente nas plataformas de streaming. Foi há apenas alguns anos que “Monster”, inspirada na vida e crimes do serial killer Jeffrey Dahmer, dominou o discurso na internet.
Uma pesquisa publicada pela ExpressVPN explica que há diferenças culturais na maneira como cada país encara crimes notórios e os representa na mídia, mas a busca por parte do público existe em todas as sociedades. Afinal de contas, quais são as razões para esse interesse particular e inusitado?
Quais são as razões para o maior interesse em séries de crimes?
A melhor maneira de responder à pergunta proposta pelo título é explorando algumas teorias. Nós selecionamos 7 dentre as mais plausíveis, considerando a crescente em mídias audiovisuais do gênero “true crime” na última década. Será que existe um único motivo ou todos eles trabalham em conjunto?
1 – Curiosidade pelo que é mórbido
Em inglês, o termo “trainwreck” (traduzido como “acidente de trem”) é usado para se referir a uma situação negativa, mas que atrai o interesse das pessoas. Essa é uma realidade universal: qualquer acontecimento ruim é razão para a curiosidade de seres humanos, e isso não precisa ser algo negativo.
No caso das séries de crimes reais, essa curiosidade vem atrelada a uma “segurança”, já que eventos serão interpretados por atores e nenhuma cena gráfica real será exibida. Como tal, elas servem como uma ponte de entretenimento entre públicos curiosos e as tragédias devastadoras da nossa realidade.
2 – Aumento das interações sociais
Você com certeza já assistiu a um filme ou ouviu uma música para ter assunto com pessoas no dia a dia, seja presencialmente ou na internet. Quando todo mundo está falando sobre uma determinada mídia, conferi-la aumenta as possibilidades de interações sociais e é uma ferramenta de socialização.
Essa é outra das razões para as séries de crimes reais estarem ganhando cada vez mais audiências: quanto mais pessoas assim, mais pessoas são influenciadas a assistir por outros do seu convívio. O fenômeno é uma bola de neve e engloba muito mais do que as séries, alcançando todo o audiovisual.
3 – Confronto de emoções num ambiente seguro
De acordo com a pesquisa publicada pela ExpressVPN, medo é um sentimento associado ao interesse por produções audiovisuais baseadas em crimes reais. Nós jamais iremos desejar passar por uma tragédia na vida real, de modo que acompanhá-las em séries, seguros, permite processar as emoções.
O mesmo vale para outras sensações, como adrenalina, fascínio, apatia (e, paradoxalmente, empatia), luto e curiosidade. Tudo isso é saudável e está por trás do interesse por outros tipos de séries, como as de romance, ação ou comédia. Ter a chance de “sentir coisas” é um dos maiores atrativos das artes.
4 – Maior oferta de grandes produções
Essa talvez seja a razão mais simplista de todas para a popularidade das séries de crimes reais, mas uma que não deve ser ignorada: se algo existe, as pessoas irão assistir. O que antes era escasso, tinha um potencial menor de chamar a atenção; quando há disponibilidade abundante, há maior audiência.
Aqui temos um ciclo que se autoalimenta e mantém a indústria girando até que exista um ponto de ruptura, o que pode estar próximo se considerarmos a recepção de séries mais recentes. O público não é completamente dominado pelas mídias, mas a alta exposição sem dúvida modifica os interesses.
5 – Compreensão de atitudes que fogem ao esperado
Para quem não compartilha da “psiquê” de um criminoso responsável por tirar vidas, pode ser difícil compreender o que os leva a cometer as atrocidades que cometem. O ato de prejudicar outros parece avesso para a maioria das pessoas, de modo que a busca por respostas é um fenômeno muito natural.
As séries de crimes reais oferecem essas respostas, ao menos parcialmente. Jamais vamos conseguir saber o que exatamente se passa na cabeça de pessoas como Bundy, Dahmer ou Gacy, mas as mídias baseadas em seus crimes oferecem teorias que saciam o desejo humano por respostas imediatistas.
6 – Sentimento de preparação diante do inesperado
Você já assistiu algum filme ou série e ficou pensando o que faria se estivesse na situação de certo personagem? Esse é um sentimento muito comum, e um que ajuda a explicar a popularidade das séries baseadas em crimes reais. E essa motivação é comprovada por pesquisas com fãs de true crime.
Segundo dados da ExpressVPN, 76% dos fãs de crimes reais afirmam que estar por dentro desse tipo de tragédia ajuda a evitar que elas aconteçam no seu futuro. Crimes como o do serial killer Ted Bundy sem dúvida nenhuma tornaram pessoas menos suscetíveis a oferecer ajuda a desconhecidos na rua.
7 – Entretenimento puro e simples
Por último, não podemos deixar de fora uma teoria muito direta: séries de crimes reais são um tipo de entretenimento, e um que costuma vir com um alto valor de produção. Quando lançados, chamam a atenção daqueles que procuram algo para assistir, sendo ou não baseados em crimes reais.
Como teorizamos, todos esses fatores explorados até aqui contribuem para a popularidade das séries de crimes reais. A verdade é que seres humanos são curiosos e algumas vezes insensíveis no desejo por compreender o incompreensível, o que se reflete nas mídias audiovisuais e exige sensibilidade.